No livro "A Cultura da Mídia", Douglas Kellner nos lembra que “a cultura da mídia almeja grande audiência; por isso, deve ser eco de assuntos e preocupações atuais, sendo extremamente tópica e apresentando dados hieroglíficos da vida social contemporânea”.
Com isso em mente, voltemos nossa atenção para as produções cinematográficas e publicitárias que abrem os (vários) debates nas redes sociais. Todos os tipos de convenção estão sendo colocados à prova. Basta pensar nos grandes temas que permeiam as relações em sociedade: família, filhos, o papel da mulher, o homem sensível, a opção sexual enfim, estamos em um momento reflexivo. O passado não dá conta de explicar o que vivemos hoje e ainda não temos todas as respostas para planejar o futuro.
A fragilidade dos contratos sociais existentes trazem novas perspectivas de diálogo a partir de marcas e conteúdos midiáticos. Afinal, esses são os grandes catalizadores de tendências, as quais são usadas como estratégia para definição de conceitos e roteiros proprietários. É o caso do Boticário, com o comercial do perfume Egeo para o Dia dos Namorados, que trouxe para a TV casais hétero e homossexuais trocando presentes. Caso semelhante é o do filme Mad Max cuja figura da Imperatriz Furiosa roubou a cena do protagonista, representando o novo ‘feminino’ nos filmes de Hollywood, uma indústria historicamente conservadora.
Marcas e empresas fazem parte do tecido social e se legitimam através de seus discursos. Assim, o que faz com que um discurso seja mais ou menos relevante é o seu posicionamento. Neste caso, consiste na ação de se diferenciar no mercado através de atributos reais ou simbólicos, projetando produtos e a imagem que se deseja construir na mente do público. Por isso se apropriar de tendências sociais contemporâneas, reflete, sem dúvida, uma atualização do discurso e define um posicionamento. Contudo, o que não podemos esquecer é que esse posicionamento precisa estar alinhado com o propósito, ou seja, sua razão de ser.
Para as marcas fica a lição: quando decidir falar, que o discurso reflita seu propósito; e para nós, consumidores dessas narrativas, quando quisermos comentar, que tenhamos argumentos. Porque gosto e opinião, todo mundo tem.
Para saber mais:
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP. EDUSC, 2001.
Comercial O Boticário
https://www.youtube.com/watch?v=p4b8BMnolDI
Trailer Mad Max
https://www.youtube.com/watch?v=hEJnMQG9ev8