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Imagina, mas ao contrário!

Subtítulo: Sociedade e capitalismo

O professor Vander Casaqui a partir dos seus estudos sobre o empreendedorismos social e os mais recentes apontamentos do que ele chamou ‘a cultura da inspiração’, nos faz refletir sobre essa ‘profusão de narrativas que produzem seus consumidores simbólicos como sujeitos a serem inspirados, mobilizados a agir em certo mimetismo em relação à narrativa exemplar, com relação direta ao ideário da ‘sociedade empreendedora’.

Desde personalidades como Mahatma Gandhi, vemos, ouvimos e consumimos ideias como: ‘seja a mudança que você quer ver no mundo’, e estabelece-se um novo paradigma no sistema capitalista vigente. Os negócios passam a ser de pessoa para pessoa, e não mais pensado no modelo fordista - onde os donos dos meios de produção compravam a força de trabalho disponível no mercado. Esse novo sistema de troca se converteria, portanto, numa relação benéfica mútua, construindo soluções que respondam às necessidades sociais.

Não é a política, mas a sociedade o novo paradigma do capitalismo.

Será? A ideia do ‘Homo Economicus’ protagonizado por Adam Smith (1723-90) que supõe que todo indivíduo tome decisões para maximizar o seu bem-estar e portanto são pessoas, em essência, racionais e egoístas, teria acabado, ou melhor, se transformado? O tripé economia, política e mercado é o que rege o sistema que classificamos como capitalista e que, no contexto neoliberal, estimula o consumo como meio de organização social. É um sistema, portanto, abstrato regido por regras definidas arbitrariamente.

A solução para o problema social, passando apenas pela economia, não muda sua estrutura. O húngaro Karl Polanyi (1886-1964) em seu livro ‘A grande transformação’ revela que o sistema oferta-demanda-preço, ou seja, o que chamamos de ‘mercado’ em seu sentido moderno, só existe e passa a desempenhar o papel de regulador da atividade econômica em tempos muito recentes. Em outras palavras, a produção e a distribuição de bens materiais sempre existiram enraizadas em relações sociais de natureza não econômica, como por exemplo, as relações de parentesco. A ruptura só ocorreu no mundo moderno, quando os elementos mercantis em expansão se combinaram e tragaram para dentro de si a força de trabalho e a terra – ou seja, o homem e a natureza - fato inédito na história. A sociedade e seu ambiente, portanto, tornaram-se acessório do mercado, agora um mecanismo autônomo.

A organização de baixo para cima em vez da de cima para baixo não é novidade, mas para que isso aconteça precisamos pensar com a cabeça de um economista, que define a economia como a gestão de recursos escassos. Por exemplo, a criatividade, uma característica do sistema econômico moderno, considerada um recurso abundante e infinito, necessita de um mercado que demanda recursos finitos, a saber, a força de trabalho e a terra. Quando falamos em ‘formas outras que vão além dos ganhos privados ou benefícios gerais próprios da atividade de mercado’, não estamos mudando a estrutura, apenas diminuindo a margem de lucro da produção. O sistema – produção – circulação – consumo é a mesma, e a necessidade só mudou de lugar – da massa passou a ser localizada. A isso o mercado dá o nome de segmentação.

O modelo de negócio de ‘um para um’, somente reforça a mesma estrutura em menor escala; os modelos ‘colaborativos’, ‘compartilhados’ ou ‘crowdunding’, combinam estruturas financeiras existentes, mas não muda sua estrutura política. O subsídio do mais rico para o mais pobre é uma política não somente econômica, mas de governo, por isso o ufanismo sobre os negócios sociais não devem esvaziar o discurso político. A discussão do sistema privado e do público é a grande questão.

Referência

POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens políticas e econômicas do nosso tempo. (1944). Ver resumo no site Editora70 http://www.edicoes70.pt/site/node/517.

CASAQUI, Vander. Memorial do consumo, ESPM. http://memorialdoconsumo.espm.br/author/vcasaqui/

E aqui, alguns textos do Prof. Vander Casaqui. http://www.travessa.com.br/Vander_Casaqui/autor/4ee7e9d6-bd77-4d1b-b1f8-253baace3276

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